Imaginem o seguinte cenário: o patriarca sente que os seus dias estão contados, mas não cede o poder. O seu numero dois dá um passo para o lado, e uma espécie de numero três é o chefe. Todos o detestam, porque demonstrou incessantemente que é incapaz de tomar boas decisões ou de arranjar dinheiro, e de repente, descobrem que o dinheiro escasseia e poderão ter de vender as pratas. Toda a gente quer correr dele de casa, mas estão de mãos atadas porque o patriarca confia cegamente nele. O que fazer? Esperar para que ele reforma ou morra para poderem agir? E quando isso acontecer, não será tarde demais?
Já adivinharam que ando a falar da Williams.
Ao ler nas últimas semanas a novela sobre a possível contratação de Kimi Raikkonen, que só esta semana é que se admitiu a existência de negociações para a sua contratação, vejo que em certos aspectos, parece que o legendário Frank Williams perdeu o controlo da situação. Christian "Toto" Wolff, o parceiro minoritário da equipa, disse que Raikkonen visitou as instalações de Grove a seu convite, e que as negociações envolviam a entrada de um grande patrocinador, que pagaria parte do salário do finlandês. Só que das muitas noticias que li sobre esse assunto não me esclareceram quem é que está na frente destas negociações. Será o Adam Parr, o mesmo Adam Parr que em mais de três anos não conseguiu nenhum patrocinador "graúdo" quando viu muitos dos outros patrocinadores irem embora? Se sim, não acredito neste negócio.
Mas mesmo que este negócio vá para a frente, eu continuo a manifestar o meu cepticismo em relação às capacidades de Kimi Raikkonen na Formula 1. Tem fama de ser um piloto veloz, mas para comunicar com os engenheiros, é uma múmia. Lembro-me, certo dia, em fins de 2009, que quando Felipe Massa começou a trabalhar com Fernando Alonso, tinha trocado mais ideias numa tarde com o piloto espanhol do que seis meses com o finlandês. Assim sendo, num projeto totalmente novo como vai ser o FW34, em 2012, com motores Renault, etc e tal, o finlandês vai prejudicar mais do que beneficiar uma equipa desesperadamente necessitada de dinheiro e de um projeto que dê certo. É que, se as coisas se mantiverem assim, vai acabar o ano com apenas... cinco pontos.
Ai, acho que as alternativas Adrian Sutil ou até Bruno Senna sejam mais baratas e mais benéficas em termos técnicos do que uma alternativa cara e inútil. Sutil tem cinco milhões de euros de patrocínio, enquanto que Bruno Senna talvez tenha um pouco mais. E talvez o custo/benefício seja bastante maior do que um piloto que define as suas temporadas em janeiro, pede demasiado dinheiro para correr e mostra um ar de "estou a marimbar-me para isto tudo". Quase me pergunto se o Kimi não foi uma daqueles campeões por acaso. E se sim, direi que, em termos históricos, gosto mais de outro campeão por acaso e seu compatriota, o Keke Rosberg...
Mas, acreditando que o "impossivel" acontece e Kimi faça o seu retorno à Formula 1, fico a pensar: quem vai recolher os louros da sua contratação? Toto Wolff, que o convidou a ver as facilidades de Grove? Adam Parr, o homem mais odiado da equipa e provavelmente a pessoa que está a apressar o fim dela? Ou Sir Frank Williams, o homem mais persistente da história do automobilismo? Nesta "equipa sem cabeça", a sensação que tenho é que mesmo com contratações a peso de ouro, os dias de glória não voltarão a aparecer tão cedo. Não confio no piloto que querem e não vejo quem pegará na equipa com "mão de ferro" para tomar um rumo aos tempos de glória.
P.S: Como sabem, os rumores sobre este caso abundam por estes dias, mas esta manhã, enquanto escrevia isto, surgiram as declarações de que Kimi Raikkonen confirmou que estava em negociações "mas que não assinou nada". Pode não trazer nada de especial, mas há quem diga que este é um sinal de que ele declinou o convite. Uma coisa é certa: é cada vez mais certo que nada vai ser anunciado em Abu Dhabi, neste final de semana.
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