Como normalmente assinalo momentos importantes em numeros redondos, é frequente deixar escapar algumas datas que também são importantes na Formula 1, pois ou já abordei anteriormente ou só me interessa falar quando chegam aos dez, quinze, vinte ou vinte e cinco anos. Mas hoje, a Serena, no seu terceiro post da sua história, lembrou-se que hoje, dia 7 de novembro, um dos momentos que marcaram a categoria máxima do automobilismo chega à sua maioridade.
No post dela, fala dos dois últimos anos de carreira de Alain Prost, que depois de ter sido despedido - de forma muito pouco cerimoniosa - da Ferrari, tirou um ano sabático em 1992, assinando um contrato com a Williams para 1993, impedindo que Ayrton Senna ficasse com o lugar, sabendo ele que a McLaren tinha sido superado pela Williams em termos de dominio. O desespero de Senna foi tal que estava disposto a correr... de graça.
Mas o acordo Prost/Williams, assinado no inicio de 1992 e mantido secreto por vários meses, enquanto que Nigel Mansell dominava o campeonato, quando foi revelado, fez com que Senna considerasse tomar os mesmos passos de Prost, ficar de fora para a temporada de 1993, no sentido de ir para a Williams em 1994 ou 95. E Senna pensou - e testou - um Penske da CART com a ajuda de Emerson Fittipaldi, mas não foi. Algo que Nigel Mansell fez, fulo da vida por Frank Williams ter contratado o seu ex-companheiro de equipa na Ferrari, pois era outro dos pilotos pelos quais nunca competiria com Prost nem que estivesse coberto a ouro, como a mulher do "Goldfinger".
Mas falar desses tempos merece outro post, noutra altura. O que quero falar é daquele dia, no já distante ano de 1993. Num FW15, um carro desenhado por Adrian Newey, com tudo o que havia de tecnologia - controle de tração, suspensão ativa, etc - Prost ganhou, como seria de esperar. Mas Senna, que ficara na McLaren à razão de um milhão de dólares por corrida, decidiu vender cara a derrota e com duas demonstrações magistrais, em Donington Park e no Mónaco, chegando até a ter mais vitórias que Prost!
Mas depois, a normalidade ficou instalada, e o francês subiu ao seu numero de vitórias até alcançar as 51, no GP da Alemanha, curiosamente o mesmo pais - mas não o mesmo local - onde, vinte anos antes, Jackie Stewart alcançara a sua 27ª e última vitória da sua carreira. No Autódromo do Estoril, em fins de setembro, fica em segundo lugar atrás do Benetton de um jovem Michael Schumacher, conquista o quarto título e anuncia o seu abandono definitivo das competições.
A temporada até tinha sido bem mais tranquila do que se esperava, naquele duelo Senna-Prost. Não houve tensões na pista, apesar de ambos não se falarem muito. O brasileiro tentava o impossivel, enquanto que Prost fazia o que tinha a fazer, apesar de Senna lhe ter demonstrado "fazer das tripas coração" em Donington Park, por exemplo, com um carro inferior. Mas em Adeleide, última prova da temporada de 1993, já não era mais o Professor contra o Mágico. Ambos estavam muito mais maduros - Prost tinha 38 anos, Senna 33 - e o brasileiro tinha sempre aprendido a respeitar Prost. Para ele, era um adversário a bater, nunca um inimigo, apesar dos eventos na temporada de 1989.
O gesto de Senna no pódio de Adeleide pode ter surpreendido os mais incautos, mas era a coisa mais óbvia de se fazer. Era o gesto de homenagem de um grande piloto a outro grande piloto. E ambos ajudaram a marcar uma era de ouro da Formula 1. E também o Destino iria dizer que aquele dia iria ser marcante para os que viram aquele dia suceder. Dali a pouco menos de seis meses, em Imola, Ayrton Senna estava morto, a bordo do carro que tanto cobiçou e que um dia, disse que estava disposto até a guiar de graça.
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