quinta-feira, 12 de março de 2015

Os pilotos pós-Senna e a passagem inexorável do tempo

Esta semana lembraram-me de algo que estava mais ou menos escondido na minha mente, mas não tinha associado: este vai ser o primeiro ano em que teremos os primeiros pilotos pós-Senna. Ou seja, pilotos que nasceram após a morte do piloto brasileiro, a 1 de maio de 1994. Carlos Sainz Jr, filho de Carlos Sainz, nasceu a 1 de setembro desse ano, em Madrid, enquanto que Max Verstappen, filho de Jos Verstappen, nasceu a 30 de setembro de 1997, dois dias depois do seu pai ter feito o Grande Premio do Luxemburgo ao serviço da Tyrrell.

A esses dois junta-se o russo Daniil Kvyat, que nasceu a 26 de abril de 1994 na cidade de Ufa. E todos estes três pilotos têm algo em comum: foram pilotos da "cantera" da Red Bull. Se Kvyat está na equipa principal, Sainz e Verstappen estão na Toro Rosso. A combinação das duas idades, 37, é apenas dois anos superior a de Jenson Button e de Kimi Raikkonen, os pilotos mais velhos do pelotão. E claro, metade da combinação das idades dos pilotos da McLaren: aos 35 de Button, juntam-se os 33 de Fernando Alonso... quando ele voltar a correr.

Aqui entre nós, que ninguém nos ouve... suspeito que o Verstappen Jr. ainda é virgem.

Para muitos dos que viveram esses dias enquanto jovens adolescentes, como eu, é sinal de que estão a caminhar para a inexorável velhice. É verdade que existiram muitos sinais para isso - cabelos brancos ou careca, filhos ou barriga, doenças ou cansaço. O corpo envelhece, mas para quem cresceu nos tempos de Ayrton Senna, Michael Schumacher, Damon Hill, Rubens Barrichello, David Coulthard, Mika Hakkinen e companhia, ainda pensamos que vimos essa gente toda a correr num "ano passado", que na realidade já vão uns quinze ou vinte anos. Aliás, esta quinta-feira faz 15 anos sobre a estreia de outro "jovem", que causou polémica na sua altura devido às dúvidas sobre a sua preparação para correr num carro de Formula 1. Era um tal de... Jenson Button.

É certo que estes são os factos irrefutáveis da vida, mas recordo que estes pilotos que falei de inicio, os herdeiros de pilotos talentosos nesses tempos idos, da minha adolescência, e do qual me faz sentir velho sempre que a partir de agora, os verei correr, foram contestados devido à sua juventude. E quando a Toro Rosso anunciou no verão passado que Verstappen junior, que tinha apenas uma temporada de monolugares, iria correr num Formula 1 em 2015, a FIA reagiu mudando os critérios da Super-Licença. Agora, ninguém com menos de 18 anos poderá tê-la, e terá obrigatoriamente de fazer toda a "escadaria de acesso", ou seja, Formula 4, Formula 3, GP3, GP2 ou Formula 2. Ninguém mais poderá vir de baixo ou mesmo os "pilotos pagantes", esses têm de ter muito talento, para além da carteira cheia.

O mais interessante nestes tempos que correm é que estes pilotos serão escrutinados, mais escrutinados do que o habitual. Têm de fazer provar que merecem o lugar, numa pressão ainda maior daquela que a Red Bull faz sobre os seus pilotos, num assédio que já têm contornos de lenda, do qual muitos foram vitimas ao longo do caminho. Numa Toro Rosso em que há a obsessão de aparecer o próximo Sebastian Vettel, só ele, Daniel Ricciardo e Daniil Kvyat é que se safaram, ascendendo para a equipa principal. Ricciardo já ganhou três corridas e obrigou Vettel a ir para a Ferrari, enquanto que se espera do russo que faça um looping com um Airbus A380 ou algo assim, para que possam dizer que é um futuro campeão do mundo. Mas eles precisam de ter um chassis de sonho, e parece que esses dias de gloria podem já estar distantes, graças à Mercedes.

Estes três pilotos podem ter crescido apenas a ver os videos das corridas do Ayrton Senna no Youtube, mas o seu assédio vai ser ainda maior. Vamos a ver o estofo que é feito esta nova geração. 

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