quinta-feira, 12 de março de 2015

Van der Garde e a aquisição hostil

O Gabriel Lima lembrou nesta quarta-feira no site Total Race a última vez em que um piloto apelou aos tribunais o direito de correr num carro de Formula 1. Foi em junho de 1991, quando o italiano Alessandro Caffi, que tinha ficado de fora após um acidente bem feio na qualificação do GP do Mónaco - o carro ficou partido em dois! - descobriu que a Arrows, a equipa onde corria, queria ficar com o sueco Stefan Johansson, o seu substituto nas duas corridas no qual ficou ausente. 

Caffi, para fazer valer os seus direitos, foi a tribunal e eles lhe deram razão. Contrariados, deixaram que ele voltasse e lá ficou até ao final dessa temporada, a pior de sempre da Arrows por causa do V12 da Porsche, um notório fracasso por ser demasiado pesado e pouco potente.

Ao contrário de Caffi, Van der Garde não esteve lesionado nos últimos tempos. Bem pelo contrário, passou todo o defeso a estar em boa forma para poder entrar num carro a qualquer momento, e podendo lançar o seu ataque no momento exato, o que fez nesta segunda-feira na Corte Suprema do estado de Vitória, de onde Melbourne é a capital. Mas tudo isto não é só um caso de um piloto fazer valer os seus direitos. Por trás disto está um dos homens mais ricos da Holanda e o sonho de ter uma equipa de Formula 1.

A história é contada pelo Victor Martins, no Grande Prêmio: o sogro de Van der Garde, Marcel Boekhoorn, dono da marca de roupas McGregor, tentou em meados do ano passado comprar a equipa por um bom preço, mas foi rechaçado por Peter Sauber e por Monisha Kalternborn. Dinheiro não é problema: Boekhoorn é dono de uma fortuna avaliada em dois mil milhões de euros, embora no ano passado tenha dado "apenas" oito milhões de euros para o seu genro...

A razão porque foi preterido a favor de Nasr e Van der Garde é simples e conhecida: eles deram mais, vinte milhões cada um. E com esses 40 millhões de euros, mais o dinheiro que a FIA deu à equipa por ser a décima classificada no Mundial de Construtores, tentou salvar a temporada, pagando as dívidas mais pendentes. Aliás, saíram noticias de que o desenvolvimento do carro ficou parado. E provavelmente, Sauber e Kalternborn apostaram todas as fichas no desempenho deste ano - o chassis do ano passado era um desastre porque tinha menos 15 por cento de downforce do que a concorrência, entre outros.

Em suma, Van der Garde é um "testa de ferro", provavelmente a fazer valer os seus direitos, que são legitimos, pois o contrato que assinou lhe prometeu um lugar como piloto titular em 2015, mas na realidade, é um pretexto para que o sogro compre a equipa. E não é algo novo: lembro que algures em 2010 ou 2011, Boekhoorn esteve interessado na Williams, mas o Tio Frank rechaçou as ofertas, pouco tempo antes de ele encontrar Toto Wolff e vender uma parte minoritária. Ele voltou à carga e no final do ano passado voou até Hinwill para comprar a Sauber, mas a oferta foi rechaçada.

Contudo, no imediato, a situação era muito delicada. A equipa contestou a decisão desta quarta-feira (mas perdeu de novo) e espera-se que hoje eles entreguem na FIA quem seria a dupla de pilotos neste fim de semana. E havia algo a seu favor: aparentemente, Van der Garde, no meio destas coisas, não pediu a tempo a renovação da Super Licença. E sem isso, a FIA não deixa correr, pelo menos em Melbourne. Mas Van der Garde já disse que isso "é o menor dos problemas". Mesmo que as coisas se resolvam agora por algum "milagre", o problema permanece.

E isso poderá desgastar toda a gente, incluindo os patrocinadores. Segundo conta nesta quarta-feira o jornal brasileiro Folha de São Paulo, o Banco do Brasil, o patrocinador de Felipe Nasr, já disse que caso seja ele o preterido, irá retirar o patrocínio e pedir o dinheiro de volta. Tão a ver a Sauber devolver vinte milhões de euro-notas? Pois é... 

Pelos vistos, ninguém sairá inocente deste caso. 

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