quinta-feira, 6 de janeiro de 2011

5ª Coluna: A temporada de 2010 nos ralis (1ª parte)

Ano Novo, assunto velho. Vou começar 2011 da mesma forma que acabei em 2010: a fazer o resumo da temporada automobilística. Mas se andei o último mês a escalpelizar a Formula 1, agora vou dedicar esta semana a fazer o mesmo nos ralis. Na última temporada dos WRC atmosféricos, o campeonato pode ter sido ganho pelo mesmo piloto e pela mesma equipa, mas existiram na temporada que findou alguns factores de interesse que merecem ser referidos. Portanto, aqui vai, num artigo dividido em duas partes.

1 - O campeão de sempre: Sebastien Löeb.

Foi mais um campeonato ganho por Sebastien Löeb, co-pilotado pelo monegasco Daniel Elena. A regularidade do francês, no seu Citroen C4, foi tão ou mais do que nos anos anteriores, mas não tanto no sentido do dominio. Em todos, menos na prova do Japão, Löeb nunca esteve abaixo do terceiro posto, demonstrando essa regularidade impressionante, e isto faz parte da lenda que o francês vai conseguindo amealhar ao longo da sua carreira. Nesta temporada, o rali de França foi o palco da usa consagração, e o local não podia ser o mais simbólico de todos: a sua Alsácia natal.

Aproveitando o mau ano da Ford, o piloto da Alsácia só não venceu em cinco provas: Suécia, Nova Zelândia, Portugal, Finlândia e Japão. Mas se Mikko Hirvonen e Jari Matti Latvala não o conseguiram parar fora dos ambientes nórdicos, já Löeb começa a ver perigo por parte de uma estrela ascendente, que também é francês e tem Sebastien no seu nome. O seu apelido é Ogier, e depois de muitas ameaças, conseguiu a sua primeira vitória da sua carreira em Portugal, e depois repetiu a proeza no Japão.

Em 2011 terá uma nova máquina à sua disposição, o DS3, e terá Ogier como piloto principal, substituindo o espanhol Dani Sordo. Sabendo que Löeb tem agora 36 anos e Ogier é bem mais novo e já demonstrou que pode vencer, será que estamos a ver a mais séria ameaça aos títulos do piloto francês? Só a temporada de 2011 é que dirá. Até lá, Löeb parte como o natural favorito ao título, numa nova máquina.

2 - O mau ano da Ford

Quanto Mikko Hirvonen venceu o primeiro rali do ano, nas frias paisagens suecas, pensava-se que a Ford iria dar mais luta à Citroen ao longo do campeonato. Na realidade, foi uma ilusão. A marca americana apenas venceria mais duas provas, na Nova Zelândia e na Finlândia, e Mikko Hirvonen teve uma temporada para esquecer, especialmente na parte final, onde ficou com a impressão de que a sua motivação tinha desaparecido, em contraste com o seu companheiro, Jari-Matti Latvala, que conseguiu ser mais constante do que nos anos anteriores e conseguir o vice-campeonato, a 105 pontos de Löeb.

Muitos poderão dizer que a Ford estava mais preocupado em desenvolver o Fiesta S2000, estreado nesta temporada e futura máquina para 2011, adaptada à nova motorização 1.6 Turbo, e nao desenvolveram tanto o Ford Focus, que em 2010 abandonou as classificativas depois de onze temporadas de bons serviços. Mas mesmo assim, nesta temporada, em algumas ocasiões foram batidos pelo carro da Junior Team de Ogier e por Peter Solberg, na sua entrada privada. O que demonstrou a superioridade da máquina francesa.

Contudo, Malcom Wilson resolveu manter a dupla para 2011 e todos depositam esperanças na nova máquina, esperando que ela cumpra aquilo que foi desenhada: bater os Citroen, mais concretamente a nova DS3 e dar a Hirvonen e Latvala uma hipótese de vencer um título que está com o mesmo dono desde 2004.

3 - Petter Solberg, o melhor privado do ano

O norueguês Petter Solberg, campeão do mundo de 2003, andava sozinho desde 2008, altura do abandono da Prodrive no WRC. Decidiu que seria melhor alinhar com a sua própria equipa do que andar noutras paragens ou a gozar um ano sabático. Mesmo que em 2009 tivesse andado num datado Citroen Xsara, em 2010 foi buscar em C4 onde conseguiu ser não só tão bom como Löeb e Ogier, mas também bateu os Ford de Hrivonen e Latvala, como o Citroen oficial de Dani Sordo. No final, conseguiu oito pódios e o terceiro lugar na classificação geral, mas só faltou a vitória para coroar a excelente temporada que o norueguês teve.

Por muitas vezes, Solberg foi o principal rival de Löeb e Ogier, tentando dar o seu melhor pela vitória, e por mais do que uma ocasião, o norueguês parecia que iria alcançar, mas na armada Citroen, os carros oficiais levavam a melhor. Mas a parte final da competição, onde conseguiu quatro pódios consecutivos, mostrou que mesmo a caminho dos 36 anos, mantinha-se muito competitivo e apreciado pelos seus fãs.

Contudo, tudo isto tem um preço. Solberg gastou o seu dinheiro para sustentar a sua equipa, e nem sempre teve patrocinios à altura do seu talento. Resultado: o ano de 2011 é uma grande sombra sobre Petter, pois ainda não tem um lugar como piloto oficial ou semi-oficial, onde a sua grande hipótese será uma de três: ou vai para equipas semi-oficiais como a Junior Team da Citroen ou a Stobart-Ford, ou continua como privado, na sua equipa, ou ruma a outras paragens. Caso o pior aconteça, seria um grande golpe para o Mundial de Ralis.

4 - A estrela em ascensão: Sebastien Ogier

No seu terceiro ano completo como piloto do Mundial de ralis, Sebastien Ogier tornou-se num valor a ter em conta. Correndo inicialmente na Junior Team, o piloto francês não demorou muito a conseguir a sua primeira vitória no WRC, no Rali de Portugal, depois de pódios no México e na Nova Zelândia. Aí, a Citroen, vendo as prestações regulares - mas não vitoriosas - de Dani Sordo, começou a colocar Ogier em eventos de terra, onde se dá melhor, alternando com o catalão. E os resultados foram melhores do que o esperado, quando Ogier foi melhor que Löeb na Finlândia e venceu no Japão.

Contudo, Ogier teve um mau final de temporada, fazendo perder o terceiro posto a favor de Solberg, mas conseguiu o suficiente para ganhar a confiança de Olivier Quesnel e correr na equipa principal em 2011. Com 27 anos de idade, ele será certamente o sucessor de Sebastien Löeb, quando este se decidir ir embora dos ralis e tentar outras categorias, como a Le Mans Series. Mas ainda falta adquirir alguma regularidade e falta também saber como se comportará tendo como companheiro de equipa um homem quase imbatível. Veremos como se comportará em 2011 com um novo carro, o modelo DS3.

5 - o bicampeonato de Armindo Araujo no PWRC

Termino esta primeira parte com um toque português. Em 2009, Armindo Araujo conseguia ser campeão do mundo na categoria de Produção, algo secundário e crescentemente depreciado em 2010 a favor da categoria S2000, batizada de SWRC, apesar de existir uma categoria paralela dedicada precisamente a essa categoria de carros, o IRC (Intercontinental Rally Challenge).

Depois deste título, o tetracampeão nacional de ralis queria alargar os seus horizontes, mas depois de analisar a situação, optou por ficar mais uma temporada no PWRC, com um Mitsubishi Evo X, no sentido de revalidar o título. Contra adversários do calibre do sueco Patrik Flodin, do neo-zelandês Haydon Paddon ou do estónio Ott Tanak, Armindo conseguiu ser regular, acabando todas as provas em que participou no pódio, e vencendo três delas: México, Alemanha e França. Com consistência, cabeça fria e sorte, Armindo conseguiu um avanço de 26 pontos, mais do que suficiente para comemorar o título na última prova do campeonato, nas estradas de Gales. Aos 33 anos, Armindo provou que a sua aposta internacional é uma aposta ganha e o bicampeonato tornou-se numa realidade.

Agora tem pela frente um grande desafio: dar o salto para o WRC. Os carros são novos, é certo, e Armindo tem experiência suficiente no meio. Mas arranjar um "budget" maior daquele que teve na Produção, ou seja, passar de um milhão de dólares por época e cinco ralis para 3,5 milhões de dólares e a sua totalidade, vai um pulo grande. A grande esperança é que Armindo mantenha e reforce os seus apoios, e conquiste mais alguns para ter um carro semi-oficial ou privado para 2011, num campeonato diferente.

E por esta semana é tudo. Na próxima quinta feira falarei sobre outros cinco tópicos sobre o Mundial WRC de 2010. Até lá!

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