Confesso que hoje estou em "branca": não consigo ser original ou fugir dos temas do dia. Os resultados da etapa de hoje do Dakar só aparecerão mais tarde e nestes primeiros dias de Janeiro, parece que toda a gente anda à volta dos mesmos assuntos. Contudo, encontrei algo que vale a pena falar, e foi nas páginas do jornal "A Bola", e tem a ver com o Dakar.
É a maior prova de todo o terreno do mundo, e a que mais apaixona os adeptos. Razão tinha Thierry Sabine quando dizia que o Dakar era "um desafio para os que partem, um sonho para os que ficam", e por muito que as pessoas vivam, o sonho se alimenta. E no caso de Jorge José Perrone, não interessa a idade. Aos 74 anos, é o mais velho da caravana, e provavelmente deve ser o mais velho de sempre a participar na história do Dakar. Coloco aqui a história deste piloto "sénior" que participa no rali ao volante de um Toyota.
"'Muitos disseram que estava louco. Deixava de ouvi-los quando me diziam isso. Não sabem o que é uma paixão. Não é uma loucura, mais um sonho', começa por dizer o argentino Jorge José Perrone. Os seus olhos brilham quando fala da mítica prova, na qual está a efectuar a estreia e já é noticia por ser o piloto mais velho da caravana na presente edição.
Aos 74 anos vive a sua primeira aventura, a corrida da sua vida, com a jovialidade de um jovem. 'No ano passado, quando os pilotos do Dakar passavam perto da minha casa, tinha a impressão de que era eu que estava ali a competir' relata. E o desejo se tornou de tal forma irrepremivel que nem o olhar de reprovação da mulher, Violeta, o fez demover. 'Disse à minha mulher: vou correr o Dakar. Ela baixou a cabeça e respondeu-me: não adianta dizer-te nada porque já sei que vais na mesma'. E com o seu entusiasmo conseguiu que a mulher se juntasse à equipa.
Pai de três filhos e avô de quatro netos, é um apaixonado por automóveis e velocidade. Em jovem correu com um Ford T e chegou a sofrer um acidente num circuito, incidente que o deixou com uma imobilidade articular numa das pernas. Agora tem a sua própria garagem, depois de ter estado a trabalhar para um fabricante de pneus. 'Toda a minha vida estive relacionado com os automóveis de corridas. O facto de viver para o ruido do motor, pneus e travões tornou-se numa tentação irresistível. Estas coisas ficam no coração'. Por causa do seu sonho, além de intensificar a preparação ao volante de um todo o terreno, mudou o regime de alimentação e iniciou uma batalha para perder peso. 'Pesava 124 quilos quando tomei a decisão de participar. Agora estou com 99', revela, orgulhoso e satisfeito por se sentir mais leve e enérgico. 'Agora estou mais activo, melhor preparado para esta exigência'.
Assume que está preparado para as armadilhas que a mitica prova esconde: 'Conheço os riscos. Mas sou temerário, o que não significa que seja suicida', avisa. 'Por outro lado, não vou todos os dias à igreja, mas acredito muito em Deus. Penso que Ele também terá de ser meu co-piloto e não apenas o Alberto. Terá de nos guiar' manifesta, esperançado em conseguir terminar o Dakar juntamente com o co-piloto Alberto Gonzalez, de... 50 anos."
Em resumo, eis uma história de como os sonhos são como a esperança: a última a morrer. E enquanto que este palpitar, e enquanto os homens forem capazes, os sonhos acontecem.
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