É raro, mas acontece. Para além de pilotos e máquinas também falo de alguns dos homem que ajudaram a moldar a história da Formula 1. E hoje vou falar de um homem que ajudou a montar um motor que dominou a Formula 1 durante mais de uma década: o motor Cosworth DFV V8. No dia em que passam três anos sobre a sua morte, é tempo de falar sobre Keith Duckworth.
Nasceu em Blackburn, no centro de Inglaterra, a 10 de Agosto de 1933. Era filho de um engenheiro têxtil, e neto de um ferreiro. Desde cedo que se notava pela sua capacidade para arranjar os sistemas eléctricos dos vizinhos, bem como montar os seus próprios aviões. Aliás, o seu sonho era ser piloto de aviões. Depois de terminar o liceu, foi fazer a tropa na Royal Air Force, onde teve treino para ser piloto de bombardeiros Oxford, mas um teste mal sucedido cortou asas ao seu sonho. Num vôo nocturno, uma reacção alérgica a um medicamento que andava a tomar na altura, o fez adormecer aos comandos do avião, e os militares da RAF o colocaram como incompetente para pilotar, relegando-o para as funções de navegador. Mas isso não o impediu de voar, tornando-se num experimentado piloto de aviões e helicópteros.
Depois de sair da RAF, foi estudar Engenharia Mecânica no Imperial College de Londres, onde descobriu o mundo dos automóveis, através de alguns dos seus colegas de curso. Comprou um Lotus 6, e correu algumas vezes, até que um acidente em Goodwood lhe tirou a ideia de uma carreira competitiva. Entretanto, achava o curso demasiado teórico, e na sua tese final, não deixou de criticar o conteúdo do curso. Conseguiu o Bacharelato em 1955 por uma margem mínima.
Após isto, emprega-se na Lotus, trabalhando no departamento de caixas de velocidades, onde conhece duas pessoas importantes no seu futuro: Graham Hill e Mike Costin. Hill era mecânico, mas com ambições de ser piloto. Costin tinha também era engenheiro, e cedo formariam uma amizade e uma parceira para a vida toda. Em 1958, depois de sentir que estava limitado na Lotus, decidiu fundar a Cosworth, uma junção dos dois apelidos (COS de Costin, WORTH de Duckworth)
Duckworth trabalhou sozinho nos primeiros tempos, pois Mike Costin estava "preso" pela Lotus devido a um contrato restritivo que tinha assinado (para impedir a divulgação de segredos industriais a outros concorrentes). Em 1960, Duckworth usou o motor derivado do Ford Anglia para preparar um motor para a Formula Junior, que tinha aparecido nessa mesma altura. Nos quatro anos seguintes, os seus motores iriam dominar a série.
Em 1962, Costin junta-se a ele, e dois anos mais tarde, mudam-se para Northampton, a actual sede. Por essa altura, os laços com a Ford tinham-se tornado mais fortes, e no ano seguinte, sabendo que os regulamentos da Formula 1 iriam mudar no ano seguinte, passando dos então 1.5 Litros para os de 3 litros, Colin Chapman pediu ao seu antigo empregado para que concebesse um motor. Duckworth falou então com um velho amigo quie tinha na Ford, o ex-jornalista Walter Hayes, e pdeiu-lhe financiamento. A marca deu-lhe cem mil libras. Mais tarde, Duckworth disse que "foram as cem mil libras mais bem gastas que Ford alguma vez investiu".
Com esse dinheiro, Duckworth elaborou dois motores: um de 1.6 Litros FVA (Four Valve A Engine) de Formula 2 e um de 3 litros DFV V8 (Double Four Valve). Ambos os motores, construidos ao longo de 1966, tornar-se-iam legendários nos 15 anos seguintes. O motor ficou pronto em 1967, a tempo de se estrear no GP da Holanda, onde Colin Chapman também iria estrear o novo chassis, o Lotus 49. Jim Clark e Graham Hill dominaram a corrida, e o escocês levou a melhor. Quando um engenheiro rival viu o motor, afirmou: "Quando vi, soube que o jogo estava acabado." E era verdade. Aquela vitória na Holanda era apenas a primeira de 155, um numero que só termiaria 16 anos depois, nas ruas de Detroit, com o Tyrrell 012 de Michele Alboreto.
Com o tempo, a Cosworth diversificou os objectivos. Preparou motores para os Ralies, nos anos 80, para a CART, com o DFX, que chegou a ganhar 81 corridas consecutivas nos anos 70 e 80. Duckworth também acolheu e treinou outros engenheiros, que viriam a fazer a sua própria carreira. Mario Illien e Paul Morgan foram dois deles, e quando sairam da preparadora, formaram o seu próprio negócio, seguindo os mesmos principios: a Ilmor.
Com o tempo, o negócio engrandeceu tanto que viu que não conseguia mais controlar a companhia como queria, principalmente no seu aspecto empresarial, pois era engenheiro de formação e de espírito. Para piorar as coisas, em 1973, aos 40 anos, sofreu um ataque cardíaco, e assim, em 1980, vendeu a sua parte na empresa para a United Engeneering Industries, concentrando-se nos aspectos técnicos.
Em 1985, decidiu construir um motor V6 Turbo, que dava a potência de mil cavalos - o mais potente jamais construido pela fábrica - mas não teve o mesmo sucesso do DFV. Para piorar as coisas, estava a divorciar-se da sua primeira mulher, e novas complicações de saúde levaram-no uma complicada operação cirugica ao coração. Sendo assim, em 1988, aos 55 anos, decide retirar-se da companhia, entregando-a ao seu amigo de sempre, Mike Costin. A venda da companhia, anos antes, tornara-o milionário.
Depois de se ter retirado, trabalhou como consultor para a marca motocilistica Triumph, e casou-se de novo, envolvendo-se em vários projectos da marca até pouco tempo antes de morrer, a 19 de Dezembro de 2005, aos 73 anos. No dia em que morreu, Mike Costin disse em tributo ao seu amigo, que "tudo o que sabia aprendi-o ao longo de 40 anos na Universidade de Duckworth". Um belo tributo a um dos homens que mais marcou a história da Formula 1. Hoje em dia, a Cosworth, que pertence a Kevin Kalkhoven e a Gerald Forsythe, continua a preparar motores para várias séries, especialmente nos Estados Unidos.
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1 comentário:
- Otimo post.
Grandes personagens do Automobilismo.
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