A Finlandia, apesar de ter pouco mais do que 5,3 milhões de habitantes, é uma das grandes potências do automobilismo mundial. Para além de providenciar algumas dezenas de grandes pilotos de ralies (Markku Alen, Juha Kankkunen, Hannu Mikkola, Ari Vatanen, Timo Salonen, Henri Toivonnen, Tommi Makkinen, Hari Rovanpera, Marcus Gronholm), também proporcionou grandes pilotos de Formula 1: Keke Rosberg, Mika Hakkinen, Kimi Raikonnen.
Mas este país também proporcionou outros bons pilotos, que não tendo sido campeões do mundo, correram na categoria máxima do automobilismo em pista. Hoje falo de um deles: J.J. Letho.
Jyrki Jarvi Letho nasceu a 31 de Janeiro de 1966 em Espoo, no sul da Finlândia. Aos 5 anos já andava de karts, e aos 14 anos já corria em Formula Ford. Até 1988, dominou a cena escandidava, vencendo vários títulos. Isso atraiu a atenção de Keke Rosberg, que decidiu ser o seu "manager". Uma das suas primeiras decisões foi de encurtar o seu nome, transformando-o em J.J., para ser mais "vendável". Ele sabia o que queria dizer, pois Keke era um apelido para o seu nome de baptismo, Keijo Erik...
Nesse ano, rumou para Inglaterra, onde se tornou campeão britânico de Formula 3, e logo a seguir tentou a sua sorte na Formula 1, enquanto guiava na Formula 3000 europeia. Depois de um teste com a Ferrari, no final do ano aproveitou uma chance para substituir o belga Bertrand Gachot na Onyx, ao lado do sueco Stefan Johansson. Em quatro tentativas, Letho conseguiu correr em duas, em Espanha e na Australia, mas não terminou em nenhuma delas.
Continua na Onyx em 1990, mas nesta altura, a equipa, que tanto tinha prometido em 1989, estava rapidamente em declínio nesse ano. O melhor que conseguiu foi um 12º lugar em San Marino, antes desta fechar as portas no GP da Hungria. Contudo, as suas performances foram suficientemente boas para conseguir um lugar na Scuderia Dallara para a época de 1991, ao lado do italiano Emmanuelle Pirro.
Vai ser aí que alcançará o seu maior feito: o terceiro lugar no GP de San Marino, numa corrida em que apenas nove carros terminaram efectivamente. o finlandês partilhou o pódio com os McLaren de Ayrton Senna e Gerhard Berger. Tudo isso no final do seu 17º Grande Prémio! No final desse ano, os quatro pontos deram-lhe o 12º lugar no campeonato.
Em 1992, manteve-se na Dallara, agora com motores Ferrari, mas nunca conseguiu um lugar nos pontos. Entretanto, uma nova equipa, experiente nas provas de Sport-Protótipos, estava a ser preparada para entrar na Formula 1, e ficou interessada em ter Letho ao seu serviço. Essa equipa era a Sauber.
Ao lado do austriaco Karl Wendlinger, e com motores Ilmor (que depois viraram Mercedes-Benz), Letho correu na sua época de estreia da equipa, em 1993, logo com um quinto lugar na prova de abertura, na Africa do Sul. Depois conseguiu um quarto lugar em San Marino, acabando a época na 13ª posição, com cinco pontos.
Isso foi o suficiente para que a Benetton o contratasse para a época de 1994, ao lado de Michael Schumacher. Mas aquilo que deveria ser o ponto mais alto de uma carreira solidamente consolidada, tornou-se num autêntico pesadelo, levando ao seu precoce abandono.
Um acidente grave em Silverstone, a pouco tempo do inicio da temporada, causou lesões na vértebra cervical, ficando de fora nas duas primeiras provas do campeonato, tendo sido substituido pelo holandês Jos Verstappen. Regressa em Imola, onde se torna mais um dos envolvidos no pior fim de semana da história da Formula 1.
Nos treinos, tinha conseguido a quarta posição na grelha, a sua melhor classificação até então. Contudo, no momento da partida, o seu carro fica parado na grelha, sendo abalroado na traseira pelo Lotus do português Pedro Lamy. Ambos os pilotos sairam incólumes, mas em vez de parar a corrida, os organizadores decidiram colocar o "safety car" em pista. Muitos acreditam que esse procedimento, que arrefece os pneus e pressiona os carros contra o solo (que na altura tinham fundo plano), foram a causa do acidente fatal de Ayrton Senna, no inicio da volta 7, uma volta depois da entrada na boxe do "safety car".
Era o começo do fim da carreira de Letho na Formula 1. A falta de confiança, aliado à má forma do finlandês, fez com que fosse substituido por Verstappen após o GP do Canadá, apesar de a ter acabado na sexta posição. Correu depois em Itália e Portugal, em substituição de Schumacher, suspenso devido a uma polémica em Silverstone (não obedeceu a uma bandeira preta). Depois fez as duas provas finais daquele ano pela Sauber, substituindo Karl Wendlinger. No final do ano, ficou classificado na 24ª posição, com um ponto.
A sua carreira na Formula 1: 70 Grandes Prémios, em seis temporadas (1989-94), um pódio, dez pontos.
Após a sua carreira na Formula 1, Letho virou-se para os Turismos. Foi para a DTM, onde correu em 1995 e 1996, e não teve resultados de relevo. Contudo, nos Sport-Protótipos, o seu sucesso foi maior. Em 1995, correu num McLaren F1 GTR com o francês Yannick Dalmas e o japonês Masanori Sekiya, e ganharam a corrida. Em 1998, vai para a CART, onde corre pela Team Hogan, mas não foi bem sucedido. A partir de 1999, dedicou-se às American Le Mans Series (ALMS), onde ganhou as 12 Horas de Sebring desse ano. Em 2003 mudou-se para a Audi, onde ganhou o título da ALMS no ano seguinte, as 24 Horas de Le Mans, ao lado do dinamarquês Tom Kristiensen e do alemão Marco Werner.
Hoje em dia, encontra-se retirado da competição, e é comentador de Formula 1 para a TV finlandesa, algo que faz desde 2001.